quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ai que saudade que eu tenho

Saudade. Sou perito em saudade. Convivemos desde a tenra idade respeitosamente. E dentre as saudades, existem algumas mais especiais que outras. Eu tenho uma saudade em particular que estava guardada há muito tempo, mas ultimamente tornou-se mais forte do que eu. Naquela ânsia de resolvê-la, pedi ajuda a algumas pessoas para que meu sonho se vislumbrasse em realidade: comer o feijão da Nona!!


O feijão da Nona foi incomparável. Só quem provou pode comprovar a autenticidade do que eu digo. Aquele feijãozinho 'básico' de uma quarta-feira normal de uma semana normal era uma loucura. Às vezes, eu e a gurizada do colégio chegávamos pra almoçar sem avisar a Nona... Parecia que ela adivinhava nos aguardando com aqueeeeeele feijão. Não demorava muito e ela dizia "Jean.... Chama teus amigo e vem pra mesa, lazerón!"

O que passou, passou e deixou saudade. Mas sempre tem um jeitinho de trazer coisas boas do passado para o presente. Foi então que pedi ajuda a estimada Tia Miriam (outro avião na cozinha) que me ensinou a fazer feijão. O surpreendente é que é bem simples fazer um bom feijão. Vamos lá:

Primeira dica: misturar feijão preto e vermelho. Na real, eu nem sei direito como fica só com um ou só com o outro. Tem dado certo essa mistura... Pra fazer uma quantidade razoável, usei uma xícara e meia de cada um.

Primeiro passo: escolher o feijão. Sempre vem umas pedrinhas e um feijões meio podres. Tem que separar.


Segundo passo: botar o feijão de molho. Não sei bem pra quê, mas eu obedeço e pronto. Uns 20 a 40 minutos tá bão. Eles vão dar uma inchadinha, que nem o Ronalducho.


Segunda dica: os complementos. Aqui morava o segredo da Nona. Ela nunca contava direito o que ela botava no feijão. Mas sei que ia paio, pé de porco, orelha de porco, joelho de porco, enfim, tudo de porco. Ela só não me botava junto porque eu já estava na categoria Ogro, que é bem além de porco, ora bolas. Resumindo, o que chamam por aí de feijoada, pra Nona era o trivial. De fato ela não precisava se preocupar com o 'colasterol', que tava sempre em dia. Hoje, eu não abro mão do bacon no feijão, no mínimo.

Terceiro passo: colocar o feijão na panela. Escorre bem a água em que o feijão estava de molho e põe os grãos na panela. Nessa hora é fundamental umas folhinhas de louro. Eu já esqueci de botar louro algumas vezes e o feijão ficou tri sem graça... Umas 3 ou 5 tá bom... Agora também é hora de colocar todas as alegorias e adereços do feijão que nesse caso foram bacon e linguiça calabresa. Toca tudo dentro da panela, coloca água até um pouquiiiiinho mais que a metade da panela, tampa e põe no fogo.


Terceira dica: O mestre Juvenal Mah Sena deu uma dica sensacional! Antes desse terceiro passo, coloca só os grãos do feijão na panela com água suficiente pra afogá-los. Liga o fogo. Assim que levantar a fervura, desliga o fogo e joga fora essa água todinha. Reza a lenda que a flatulência característica do bom feijão vai toda junto com essa água...

Quarto passo: esperar. De novo, 'good things come to those who wait'. Seguindo a mestre Tia Miriam, depois que o barulhino da válvula da panela de pressão fica constante, tem que esperar 40 minutos! Exatamente 40 minutos, nem 5 a mais, nem 5 a menos.

Quarta dica: tu pode separar esses 40 minutos em 20 + 20. Tem lógica, calma aí... O bacon, por exemplo, se desmancha se cozinhar por 40 minutos... Então tu pode colocar um bacon na largada pra derreter e dar gostinho e outro aos 20 minutos pra ficar meio inteirinho pra comê-lo junto com o feijão. O mesmo vale pra linguiça e pra aquela costelinha que sobrou do churras do domingão..... Ah sim, também existe o Feijão de China, que tu tá pensando?

Quanto passo: o refogado. Enquanto a panela tá lá fazendo tshshstshsshstshshsh, tu pega cebola, alho e refoga tudo tudo bem douradinho e deixa de lado, isso já vai ser usado...

Quinta dica: vale tudo pra colorir esse refogado: manjerona, ervas, pimentão vermelho, bacon, etc...

Sexto passo: o gran finale! Hora de desligar o fogo e esperar toda a pressão da panela sair. Tem que mexer naquela valvulinha até que ela não faça mais nenhum barulinho. Abre a panela e baaahhhhhhhhhh!!!! Tá feito!!!??? Quase... A água que tinha na panela secou bastante, precisa colocar mais água nessa hora pra fazer o caldinho. Agora, joga aquele refogadinho dentro da panela, salga e vai provando até que fique ao teu gosto.



Sétimo passo: COMER !!!!!!! Os acompanhamentos tradicionais são arroz, e um refogadinho de couve, hhmmmmmmm......



Hoje, quando faço esse feijãozinho, fico com o gosto bom da saudade na boca. Acho que estou ficando com o saudável cacoete de trazer as coisas boas do passado para colorir o presente...




9 comentários:

Unknown disse...

BAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!
Eu poderia ter só feijão pra me alimentar o resto da vida que eu estaria feliz - com ou sem gases, mesmo. E esse tá pra lá de caprichado! A Nona deve estar orgulhosa, onde quer que ela esteja agora...

Unknown disse...

Eu tive o prazer de experimentar o feijão da Nona há 15 anos e, realmente, nunca comi um melhor!!!

William I disse...

Rapaz, deu vontade de soltar um peidorrón só de ler o texto. Neste quesito, esse tal de Juvenal Mah Sena é mestre, hoehoehoe.

Daniela Conceição disse...

Essa receita do Nego essa semana tá muuuuito engraçada... e, é claro, apetitosa !
Cool !!!
Beijos

Jean Cainelli disse...

Tat, temos que combinar uma rodada de feijões, com máscara...

Renata, fiquei muito feliz de saber que tu lembra do feijão da finada Nona!

Juju, eu, como tu, sempre respeito os mestres.

Dani, valeu! Faz aí um Test-Drive!

Bjos a todos!
Jean

Sandro Massena disse...

Esse tal de Juvenal não sabe nada!!! Não tem essa de tirar a primeira água do feijão!!!

É ANTI-JOGO!!!!

Como diz o poeta, "deixa acontecer naturalmente"...

Felipe Matzenbacher disse...

Quando a gente começa a acumular saudades, é porque começamos a acumular idades, aliás, tem que aproveitar esta idade em que a saudade está batendo e o colesterol ainda não.. hehe. Abraço.

Lis disse...

Feijão da nona.... a saudade real é da Nona...mas com certeza o feijão deve ser maravilhoso.
Vamos curtir a saudades deles......
antes que comecem a senti-la de nós.Bjs.....

Unknown disse...

Jean,
vi a Nona uma vez so e me apaixonei. Imagina se eu tivesse comido feijao feito por ela.
Eu acrescentaria uma farofinha e um bom Cabernet Sauvignon.
Jean esta multado para repetir a dose aqui em casa num findi.
Beijo no Pedro.