Em outro texto eu já tinha prometido um post sobre o Mercado Público de Porto Alegre. Eu gosto muito de lá, embora reconheça que ele está a anos-luz de outros mercados por aí afora, seja em charme, variedades ou opções gastronômicas. De qualquer forma, sendo o que temos pro jantar, vamos a ele: com vocês, o MEU Mercado Público!

Como trabalho longe do centro, só consigo ir ao Mercado aos sábados. Adoro chegar lá cedo, por vários motivos: facilidade de estacionar, pegar as bancas abrindo, com sua melhor variedade recém exposta nos balcões... tudo fresquinho, novinho... Antes disso, claro, a minha lancheria preferida: podem achar agressivo, mas meu dia começa com um PASTEL DE BACALHAU na LANCHERIA LUZ. De manhã cedo – pelo menos nos sábados – o óleo está novinho. O pastel é generosamente recheado e o atendimento é caloroso.
Já sou conhecido da casa a ponto de chegar lá e receber os cumprimentos dos garçons com a clássica pergunta: “o de sempre?” E, claro, sempre peço ‘o de sempre’. Com uma taça de café com leite, pois são 8 horas da manhã. Isso mesmo, oito. Já estacionei, já dei um giro pelo Mercado, sem comprar nada, só para ver as bancas, e me mandei pra Lancheria. É fundamental chegar cedo, amigos. É outro Mercado.
Se estou sozinho, é jogo rápido. Saboreio meu pastel, estranhamente bem acompanhado pela taça, e me mando. Se tenho companhia, aí o papo flui e temos sempre que controlar a vontade de esticar a prosa, pedir mais um pastel, ir ficando... OK, nem pensar, DOIS pastéis de manhã cedo, aí é agressivo mesmo. Vamos às compras!
Primeira parada: BANCA DO HOLANDÊS. Excelente variedade de laticínios, fiambres e embutidos. Destaque para o preço dos queijos especiais e para os fiambres. A Mortadela Ceratti fatiada na hora é quase transparente, e fica especialmente saborosa por causa disso. Acreditem! Além dos frios, convém aproveitar outras barganhas de ótima relação custo X benefício que o Holandês apresenta: variados tipos de castanhas, compotas, azeitonas... tudo à granel, o que dá um banho no preço dos embalados do supermercado. Hummm... falando nisso, não dá pra deixar de levar as azeitonas pretas temperadas. São gordas, carnudas, suculentas! Bem, já que estamos aqui, quem sabe aproveitar e levar também uma mostarda Dijon? Um pacotinho de açafrão? Ou ainda, um potinho de Horseradish, o preparado de raiz forte que conquistou meu paladar nos anos que morei na Inglaterra.... Chega, é melhor encerrar a conta, a corneta da patroa vai ser grande. Bem que ela não gosta quando eu venho sozinho... ainda pego mais uma garrafa de azeite de oliva e corro pro caixa tentando não olhar para as delícias que ficam por ali, prontinhas para aumentarem o valor final da compra. Confesso que nem sempre resisto a elas...
Fiambres resolvidos, vamos adiante. Está na hora dos temperos frescos. Seis banquinhas disputam a atenção dos clientes com suas ervas aromáticas, legumes e verduras. Não estou falando das duas bancas centrais, não. São caríssimas, não valem a pena. Estou falando das banquinhas laterais, que ficam no corredor de quem entra pela Praça XV. Ali eu me sirvo de cebolinha francesa, coentro, orégano, tomilho, salsa. Tudo fresco. Convém ainda conferir as batatas baby e o pimentão vermelho: quando tem, estão sempre com bons preços.
Certo, temperos comprados. Se tenho tempo, dou uma espiada nos vinhos do EMPÓRIO BANCA 38. Excelente lugar para encontrar opções nacionais de boa qualidade. Confesso que gostava mais dessa banca antes da reforma, quando ela era especializada somente em vinhos, mas tudo bem. Ainda vale a visita. Escolho aquela novidade que mais me chamou atenção (“foi uma garrafa, amor, só uma... nem foi tão caro assim”) e já vou imaginando a ocasião para prová-la.
Em frente! Agora temos duas situações. Tem vezes que o cardápio da noite de sábado será CARNE. Outras vezes, PESCADOS. Mesmo quando a pedida é pela segunda opção, convém sempre passar na minha Casa de Carnes preferidas para conferir as ofertas. O AÇOUGUE SAN REMO é fornecido exclusivamente pelo Frigorífico Mercosul. São carnes selecionadas, de boa procedência, e com preços bem atrativos. Difícil resistir a uma picanha de 1,2kg quando essa custa de 30 a 50% mais barato que no Zaffari. “OK, só uma, só porque tá em conta, shiiiii, vou arrumar incomodação com a patroa, mas olha o preço, não dá pra resistir, tenho que ir embora daqui, já gastei demais”.... “mas alguma coisa, meu amigo?”. Respondo: “uma costelinha suína, cortada só pelo vazio, bem carnuda”, e penso “bah, vou apanhar em casa”.
Bom, mas o cardápio era pescado, certo? Então vamos lá. Essa deve ser sempre a última parada do passeio, pois não convém ficar zanzando com esses produtos sem a devida refrigeração. Caso a ideia seja comprar algum peixe inteiro, da estação, como anchova ou tainha, normalmente um giro pela FEIRA DO PEIXE vai resolver a questão. Isso vale também para o camarão da safra (que me faz esperar ansiosamente pelo final do verão). A feira é meio escondidinha, a entrada fica de frente para a Júlio de Castilhos, no quadrante com a Praça Parobé. Caso a ideia seja um peixe mais nobre, ou mesmo frutos do mar, é obrigatório passar na JAPESCA antes de fechar qualquer negócio dentro da feira. Eu sei, as mãos já estão cheias de sacolas, a Japesca
está lá perto da entrada da Siqueira Campos, mas não é tão longe assim. Confere lá antes, é sempre bom. Já mudei um cardápio só para aproveitar uma Garoupa linda que se oferecia para mim por módicos R$ 13,00/kg. Sim, fresquinha.
Compras feitas, vamos pra casa! Mais faceiro que mosca em tampa de xarope!!! Até agüento o mau humor do tio que guarda meu carro, que sempre recebe minha moeda de cara feia. Até sábado que vem, Mercado Público! Se minha mulher deixar...