quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Indiada Jones e a Última Garfada

Minha profissão me permite viajar bastante. Ou melhor, me OBRIGA a viajar bastante, mas tudo bem. Apesar de muitas vezes não ser esse glamour todo que parece, gosto muito desse osso do ofício. Principalmente pelas oportunidades de experimentar coisas bem diferentes do que temos por aqui. Já provei carne de cachorro na China, sopa de cobra em Hong Kong, carne de Camelo na Arábia Saudita (essa, ainda por cima, comendo com a mão, sentado no chão), olho de peixe no Japão... Bem, digamos que nem todas as iguarias estavam ao gosto do meu paladar. Ainda assim, interessantes de conferir.

Mesmo tendo passado por algumas MEGA-INGRATAS – não queiram saber como é ter uma infecção intestinal no Yemen – a parte boa da coisa é conhecer a cultura de países bem diferentes do nosso através de uma das manifestações mais autênticas de um povo: a sua culinária. Os árabes, por exemplo, prezam a fartura. Um convite para jantar significa pelo menos três horas no restaurante. A noite começa com petiscos tipo azeitonas temperadas, conservas, enroladinhos e empanados típicos. Até aí, beleza. Depois desse couvert (que já é comida suficiente para ser considerada uma entrada bem servida) se escolhe o fumo da SHISHA (no Brasil é mais conhecida como narguila ou narguilé, como mostra a foto ao lado), que será colocada ao lado de cada pessoa para ser degustada individualmente. Para a próxima etapa vem o garçom com uma mesa repleta, eu disse REPLETA de pratos frios. Quando todos os pratos estão na mesa, o primeiro impulso a ser contido é perguntar ao anfitrião que horas chega o ÔNIBUS com a delegação completa do Sport Club Internacional. Afinal, aquela comida toda não pode ser para as três ou quatro pessoas que estão ali dividindo a mesa, e sim para um time de futebol inteiro. Pois são só para os presentes, mesmo. E são só os pratos frios. Depois deles, vem uma rodada maior ainda com diversos pratos quentes. A essa altura da coisa, o mais importante passa a ser administrar a desfeita. Sim, o bigodudão ainda vai ficar todo ofendido se o trigésimo quitute que ele oferecer for recusado, com a inaceitável desculpa de já estar satisfeito desde lá do couvert. A sobremesa é outro despropósito: normalmente são feitas à base de gergelim, mel, massas folhadas e sementes, enfim, uma bomba mais adequada para ser consumida às quatro horas da tarde do que após uma orgia dessas.

Os Chineses tem uma outra abordagem. Eles escolhem o restaurante, o cardápio, tudo. Nem perguntam onde o convidado tem vontade de ir, ou que tipo de comida quer comer. Na real eles aproveitam a oportunidade para comerem o que ELES querem. A semelhança com os árabes é a fartura de pratos. E a principal diferença – pelo menos para o meu paladar – é que, ao contrário da deliciosa comida árabe, a chinesa é sofrível. A grande vantagem é que os chineses estão mais preocupados em curtirem eles próprios a função toda, então não ficam empurrando comida ao coitado que está lá apenas como motivo para eles se empanturrarem. Na cena acima, o incauto viajante prova uma iguaria local: pata de frango ao molho agridoce picante. A foto flagra a 'delícia' do prato na expressão indisfarçável...

Com os Japoneses a coisa é tranquila. Eles têm uma culinária primorosa e a educação de perguntar o que o convidado prefere. Perfeito. Apesar de menos exótica que a chinesa ou árabe, uma vez que existem diversos restaurantes japoneses pelo Brasil, os bons restaurantes de lá ainda oferecem novidades deliciosas, saindo um pouco do sushi. Pratos com frango empanado, agridoces de frutos do mar e outros itens nem tão convencionais assim despertaram muito meu entusiasmo na terra que o Colorado fincou a bandeira no saudoso ano de 2006. Só duas coisas não deixaram saudades. O famigerado olho de peixe, com um gosto horroroso, e o bizarro hábito dos japoneses de se embebedar num karaokê depois do jantar, comendo pipoca. Uma Indiada Jones, enfim. A foto abaixo mostra esse empolgante momento...







Na Europa Ocidental o nosso paladar fica mais à vontade. Afinal de contas, estamos em casa, culturalmente falando. Lá o gostoso mesmo é descobrir as delícias em algum restaurantezinho escondido, bucólico, sem frescuras, e com um primor de qualidade que levou séculos para ser atingido. Numa dessas andanças eu descobri uma sopa de cebolas em Paris que rendeu história aqui no blog.

Tenho vontade de conhecer sempre mais. De provar mais sabores diferentes e entrar em contato com diversas culturas através da sua culinária. Acho que esse interesse acaba sendo benéfico para trazer ideias na hora de inventar moda na cozinha. Há perigos na estrada, mas um garfo aventureiro não foge deles, assim!

6 comentários:

Dani Conceição disse...

Hahahaha !
Ótima a crônica da semana !
O mais engraçado é a foto do Sandro comendo comida chinesa.
Tá "óóóótemo" !!!!
Beijos

Maria Gotinha disse...

Pãtz... olho de peixe é um nojo!!

Maria Rita Horn disse...

Olho de peixe? pata de frango? já te inscreveu para a próxima edição de No Limite, né?
Putz, e o cara roubou o microfone dos japa, que nem fez, aliado ao Juju, naquele show do pai da Tat. Para errarem a letra, ainda por cima :P

Gnomo (Marcelo Moraes) disse...

Todo mundo já deve ter tido o seu garfo aventureiro em ação. Tenho uma ótima pra contar... vai virar post !!! Quem tiver uma pra contar devia mandar pra gente !!!
Valeu !!!

Felipe Matzenbacher disse...

Espetacular.. poderia mais tarde dividir em várias crônicas e com maiores detalhes, inclusive aquela do beijo no árabe bigodudo! Hehehe, muito engraçado!
Abraço.

William I disse...

Maria Rita sempre lembrando de coisas bizarrasw, hehehe. Lembro que naquela ocasião cantamos Alabama Song, do Doors. Enquanto um dos trechos diz "and must have whisky and, oh, you know why", Juvenal ridiculamente insistia com "must have whisky once and while". Bebum é phoda.